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domingo, 25 de março de 2018

Sobre (baixa) autoestima e seus poderes

A gente ama alguém e tem a sorte do amor tranquilo com sabor de fruta mordida, que não é aquele que a gente inventa. É a nossa música que toca sempre, segredos de liquidificador contados em cada oportunidade, dança com par o tempo todo e café docinho-docinho na medida certa. A reciprocidade sentida e saboreada.



Eu sei de tudo isso aí e sei da sorte real, da fortuna que é, da facilidade de se fazer acreditar em destino, coisas escritas nas estrelas e felizes-para-sempre. Mas não é na primeira briga que a gente percebe que o conto de fadas não é real. Nem na segunda ou terceira. Não é numa discussão, na verdade, nem numa DR ou nas crises de ciúme que geralmente aparecem na minha TPM.

É no meu olhar de amor para o ser amado, é eu olhar pra ele e perceber alguém lindo, inteligente, incrível e acolhedor. É ver o melhor dele crescendo em cada dificuldade minha com a vida e a presença dele pra me apoiar e me dar forças. É admirar o desenvolvimento emocional e pessoal do outro e perceber que se cresceu junto. E de repente...

De repente você volta a se comparar com tudo e todos e volta a ser inferior a todos e inferior a ele que sempre está ali dando o seu melhor. E sente a tristeza de perceber o quão grande ele é, e mseus próprios defeitos ficam latentes, óbvios, escancarados pro mundo ver. E na sua cabeça doente é bem claro que vocês não deviam estar juntos, que alguém grande assim merece alguém que brilhe igual. Que você se achar uma pessoa sortuda por estar acompanhada por alguém tão especial é na verdade quase uma burrice dele por estar dedicando parte da vida a alguém que só atrapalha.

Qualquer pessoa seria melhor no seu lugar e você nem tenta, só aceita sua inferioridade imposta por sua própria cabeça.
E recomeça a tentar listar as coisas boas dentro de si mesma, tentando sair desse buraco que você nem sabe como entrou, fugir dessa sua imagem borrada que as outras pessoas insistem em dizer que não enxergam.


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Na fila do pão



E até quem me vê lendo jornal
na fila do pão, sabe que eu te encontrei

Viver é perigoso e eu cansei de repetir isso pra mim mesma. Já aprendi. Mas repito pra você: viver é perigoso! Porque em pleno dia se morre. E se apaixona e se ama.
Agora parei de misturar Guimarães, Clarice e Aguilar, vou direto ao ponto:
Minha amiga conheceu um moço e durante todas as semanas de conversas antes do primeiro beijo, dava pra perceber que ela estava feliz. Ela irradiava luz, sorrisos e gentilezas, estava com a pele e os cabelos mais bonitos, era lindo e gostoso ficar do lado dela.
Rolou o primeiro beijo, o segundo, terceiro, os encontros e a mágica aconteceu. Estão apaixonados, felizes e lindos. E eu posso te jurar que até quem vê minha amiga na fila do pão sabe que ela encontrou alguém.
Fiquei me perguntando se quando as pessoas olham pra mim elas sentem que eu encontrei alguém também. Nunca fui boa em disfarçar, sabe? Mas ó, na primeira semana, todo mundo no trabalho me deu bom-dia com sorrisos abertos que eu nunca tinha visto. Na segunda semana a chefa parou e conversou comigo sobre Beatles. Na terceira semana todo mundo parou pra comemorar minhas férias e até perguntaram sobre meu namorado sem eu ter dito um A. Até quem me vê em pé no ônibus lotado sabe que eu o encontrei.
E comecei a pensar nisso, pensar em todas essas pessoas que vagam por aí, nesse movimento pendular de ir de casa pro trabalho, faculdade, tomar café da manhã e almoçar. Penso nessas caras entediadas e olhares para vídeos no facebook e não vejo alguém.
Encontrar alguém é ver graça até no ônibus atrasado porque nada disso importa mais. Encontrar alguém é se encontrar no meio do caos e você de repente segue junto na tempestade com outra pessoa e com você mesmo. Ficamos entediados, sim, mas com um sorriso enorme no rosto, de quem sabe que existe um motivo a mais pra voltar pra casa, um motivo a mais para estar simpático, um motivo a mais para esperar o fim de semana.
Até ir buscar o pão de manhã é motivo de alegria. Porque

pra nós dois sair de casa
já é se aventurar
E antes que você me julgue (talvez eu já esteja dizendo tarde demais), eu não curto Los Hermanos. Mas encontrar alguém dá sentido pra velhas coisas superestimadas e alguns versos de LH de repente se tornaram reais.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Sobre o tempo que me agrada



Ultimamente minha mãe tem estado bem brava comigo porque eu peguei o costume de ir domir muito tarde e acordar bem cedo. Na verdade ela tem estado brava com isso porque além de eu não dormir tempo suficiente, não paro quieta no tempo acordada: saio com dois amigos por dia, leio mais de um livro ao mesmo tempo, lavo todas as minhas roupas enquanto me arrumo pra ir no cinema com o meu irmão.

Ela percebeu essa loucura em mim quando me chamou pra assistir um filme e eu falei que não tinha mais paciência pra filmes porque enquanto a gente tá na frente da televisão, a vida tá passando. Minha mãe achou graça na resposta porque meu irmão fala a mesma coisa. Ela sempre responde que a gente tem 17 e 23 anos, a vida ainda tá todinha na nossa frente, não carece pressa.

Me peguei pensando nisso na terça-feira quando um amigo meu comentou que a gente ainda tem muito tempo pra viver e concretizar nossos projetos pessoais. Até os oitenta anos falta muito, ele disse.

Mas hoje estou com o Holter. Vou poupar você leitor de todas as minhas piadas infames com o Holter e te contar que ele é um aparelhinho que fica conectado a mim durante 24 horas para monitorar meus batimentos cardíacos. Enfim, estou com o Holter e quando estou com o Holter, não posso usar o celular nem o microondas. Juro pra você que aquele tempinho a mais que eu ganhei na hora do almoço sem a cara enfiada no facebook e no instagram me deram muito o que pensar. E me deram saudade também.

Não do facebook ou do instagram, mas das conversas. Eu tenho amigos que moram longe, tenho amigos que eu vejo de vez em nunca, meus próprios pais eu encontro uma vez por mês. E almoço sozinha todo dia.

Não me importo de almoçar sozinha, mas mesmo com meu livro do lado, hoje foi bem solitário, sem o celular pra me mostrar que existem pessoas vivendo (digo isso porque as pessoas à minha volta estavam acompanhadas ou com a cara no celular - não vamos entrar na problemática do celular hoje, tá?).

O que eu quero dizer é que hoje eu fiquei o dia todo sem celular (ainda estou) e me veio com toda a força essa sensação de não estar vivendo. Mais especificamente, de não estar aproveitando as pessoas que apareceram na minha vida.

Eu já contei por aqui como eu tenho trabalhado em só manter na minha vida pessoas que eu realmente admire. É difícil, mas sinto que finalmente consegui e agora me pergunto porque me privo de conversar com elas! Se elas estão aqui, existe o motivo lindo de eu as ter mantido e existe o motivo mais lindo ainda de elas terem visto algo de bom em mim e terem ficado por isso. Focar o olhar o tempo todo no facebook e no instagram me roubou dessas pessoas. Pessoas reais, que não se preocupam em mostrar coisas bonitas que fizeram, mas em compartilhar momentos bonitos que viveram. E me agrada bem mais viver esses momentos com cada uma delas do que visualizar tudo por uma tela pequena.

Me agrada muito mais ter conversas que duram toda a madrugada do que sair a noite e beber até não saber do que raios eu estou rindo. Me agrada extremamente mais sentir o cheiro delas ao abraçá-las do que dormir só pra descansar e acordar só pra trabalhar.

Minha mãe também fala que quando era nova gostava de sair assim como eu. E de não perder tempo. Ela continua o discurso dizendo que a vida realmente passa sem a gente perceber mas que na verdade a gente encontra o equilíbrio de tudo. Eu fico só pensando que independente do equilíbrio ou do caos, a vida é boa e linda e perceber isso me parece o maior salto que qualquer humanidade poderia dar.