Sem brincadeira: eu acordei e pensei “Vou ver 5 a seco hoje”.
Fui para a aula com vontade de sentar e ver o tempo passar. Na primeira
aula eu só conversei. Era minha aula favorita e eu só conversei.
Na segunda aula eu fiquei com vontade de dormir e ficava imaginando
como seria a minha noite.
Almocei.
Subi até o sexto andar e lá fiquei na internet com o F. e a A.
O tempo foi passando, a ansiedade batendo mais forte e eu tentando
evitar decepções: Natália, se por algum acaso não der certo de vocês
conseguirem ver 5 a seco, não fique triste! Não será a primeira vez que isso
acontece e vocês terão outras chances de os verem!
Encontrei uma amiga, jantei, tomei banho, coloquei uma roupa bonita, passei
um perfume, nossa, nunca me arrumei tanto assim! Mentira, claro, mas a sensação
foi essa.
Peguei a linha 4-amarela, desci na Luz, peguei baldeação para a linha
9-rubi do metrô e fiquei esperando a Viviane.
Algo me disse para olhar para trás e eu olhei. Era ela lá, andando na
minha direção, matando a saudade aos poucos.
Pegamos a linha rubi, descemos na Água Branca e adivinhem: o google
mentiu pra nós!
Na verdade ele não mentiu, mas omitiu que o caminho que ele mostrou era
perigoso.
E lá fomos nós voltar para a Barra Funda, esperando encontrar um ônibus
que nos deixasse em em frente ao SESC em quinze minutos.
Atá acharmos a saída da estação, faltavam dez minutos. Vamos de táxi?
Vamos! Quanto tempo você faz daqui ao SESC Pompéia? SESC Pompéia? Ah, uns dez
minutinhos.
Minutinhos? Minutinhos? Aqueles dez minutos foram os mais longos da
minha vida! Nunca vi coisa igual!
Mas enfim, o cara conseguiu nos deixar na porta do SESC em dez minutos
e nós conseguimos entrar antes da sineta tocar.
E começa o espetáculo!
Vinícius Calderoni falando todas aquelas coisas chatas que ouvimos em
todos os teatros, mas que, saindo da boca dele, pareceram ganhar vida e
brincaram no meu ouvido.
Não é permitido filmar e fotografar sem concessão prévia do SESC. Mas
não será necessário filmar ou gravar, pois esse espetáculo ficará gravado em
suas retinas.
Realmente, Vinícius... ficou mesmo na minha retina...
Ficou gravado o Rato sonhando ser o Cara e o Cara sonhando ser o Rato.
Ficou gravado a Bela, Bela, pagando com um beijo o último ingresso, nem muito
atrás, nem muito na frente. Ficou gravado 5 a seco cantando Chico Buarque, ah,
5 a seco, esses garotos que me deixam cambaia!
Quer ver uma garota cambaia? Vai com ela quando ela for conhecer as pessoas
em quem ela se inspira (nossa, quantos ‘ela’! desculpem professores e professoras
de português, escritores de plantão, ainda estou aprendendo, certo?).
Quando o espetáculo acabou, saímos, desesperadas, costurando entre as
pessoas, em direção ao palco. A gente tinha que ver se eles existiram mesmo ou
se foi um sonho. Mas, claro, não um sonho em que o Rato vira o Cara e que o
Cara vira o Rato, ou o sonho que o Cara faz uma canção inédita para a Bela, mas
que foi o Rato quem cantou a tal canção. Nosso sonho era diferente. Um ano
sonhando o mesmo sonho! Imagine como é! Acho que só o Rato e a Bela entendem.
Mas eles existem. Eles vivem, tem cheiro, carne, osso, alma, coração,
suam, abraçam e aparecem em fotografias.
Duvida?
Então olha só:
Ah, mas você sabia que a vida real é melhor que os sonhos?
Pois é, eu não sabia. Mas descobri que sim, a vida real é melhor que os
sonhos. Porque no meu sonho, eu conheceria apenas 5 a seco naquela noite. Mas
eu fui além. Conheci uma das minhas atrizes favoritas, que atuou como
personagem principal de uma das minhas séries favoritas e o cara que criou a
tal série e adaptou a peça Cambaio para Cambaio [a seco]. Ah, claro! Conheci o
Rato e o Cara também!
Para os que ainda não acreditam (como eu):
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Livro "Tudo o que é sólido pode derreter" de Rafael Gomes, com Mayara Constantino (atriz principal da série) na capa |
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