Onze da manhã do domingo de dia das mães e minha
mãe, como é costume, liga para a minha avó.
O telefone toca, toca, toca e nada de alguém
atender.
Toca, toca, toca e meu tio, que veio do Maranhão
para ver minha avó, atende o telefone e fala que não está vendo minha a vó e
não sabe aonde ela pode ter ido. Espera um pouco que eu vou procurar!
E volta logo depois dizendo que minha avó está
passando mal e que não lembra de nada, nem de quem era ela.
Achei engraçado que minha mãe deu feliz dia das mães
assim mesmo e minha avó, coitada, disse apenas ahãm e uhum como se pensasse
“quem é essa doida falando comigo e que acha que eu sou mãe dela?”.
Devo dizer: entrei em desespero, quis voltar
correndo pra São Paulo e levar minha avó ao hospital o mais rápido possível, me
senti culpada, imagina se meu tio não estivesse lá, o que seria da minha avó?
Eu devia estar lá pra cuidar dela, mas não, estou aqui numa boa, e nunca,
nunquinha me dei ao trabalho deligar pra ela pra perguntar se ela está bem!
Um tempinho depois, coisa de meia hora, minha mãe
liga de novo pra minha avó e descobre que tudo está bem e como era antes, cada
coisa em seu lugar: eu curtindo o dia das mães em casa, vulgo São José dos
Campos e a memória da minha avó na cabeça dela.
Ah, mas claro que alguma coisa tinha que ficar me
incomodando, senão eu nem estaria escrevendo isso aqui e agora.
Eu continuei desesperada, porque percebi que todos
estamos sozinhos no mundo. Claro, deve, sim, cada um ter um amigo, pai, mãe,
esposa, namorado, mas se você não cuida de você mesmo, quem vai cuidar (aliás,
já dizia meu pai e eu não escutava... tive que aprender na marra na virada
cultural... sim, eu fui à virada cultural)?
Sei que eu peguei o ônibus e fiquei observando...
Um homem com aqueles protetores no pescoço, sabe?,
aqueles que colocam em você quando você sofre um acidente ou algo parecido, mas
então, um homem estava com um negócio desses no pescoço e sentado na guia da
calçada, chorava como uma criança, e a rua ia deserta, cada um dentro do seu
carro ou da sua própria existência, seu egoísmo barato.
Mas, tão certo como esse homem estava sozinho, um
garoto também estava, embora sua mãe estivesse no lado: eu já estava na
rodoviária e um garoto estava com esse mesmo coisa no pescoço (já ganhou nome
pra mim, você viu? O coisa!), um braço enfaixado e uma muleta, mas a mãe dele
não o ajudava.
Estamos sozinhos. Com ou sem alguém no nosso lado.
Mas quer saber? Meu desespero está diminuindo, gota
a gota, pouco a pouco, e eu ainda não liguei pra minha avó.
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