“Há metafísica bastante em não pensar em nada” (Alberto Caeiro)
Natália indo para a aula de violão com o pai:
Natália: Nossa! Um aluno de uma das melhores escolas públicas de São Paulo se matou depois do resultado de ENEM!
Pai da Natália: É?
Natália: É... Pra você ver... Ainda bem que a pressão no meu colégio não chega a tanto!
Pai da Natália: Ih, Naná!Isso não foi pressão, não. Pressão não existe. O cara é que não sabia viver e lidar com a situação.
E a Natália fica pensando na situação... o que eu vou fazer se não passar no vestibular?
Natália e a mãe comprando uma mochila pra Natália:
Vendedor: porque você quer comprar uma mochila nova? O que aconteceu com a sua?
Natália: A minha está descascando... Comprei ano passado e já está assim...
Vendedor: onde você comprou sua antiga mochila?
Natália: aqui!
Vendedor: Mas as nossas mochilas possuem dois anos de garantia, você não sabia?
Natália: Putz! Eu esqueci! Mas agora eu já devo ter jogado fora a notinha...
Vendedor: mas essas mochilas duram tanto...
Natália: É eu sei... É que esse ano eu comecei a carregar mais livros nela, mais peso e ela descascou...
Vendedor: Ah, entendi! A minha eu comprei ano retrasado. Eu acabei o colegial ano passado e uso a minha pra vir trabalhar.
Natália: nossa! Sério? Você não quis fazer faculdade?
Vendedor: Eu quero fazer faculdade, mas só quando tiver uns vinte e um anos.
Natália sem ação... Eu não vou morrer se não passar no vestibular, não é?
Natália e a mãe indo na Lan house imprimir o boleto bancário da inscrição no vestibular da UNESP:
Natália: oi, olha eu de novo aqui! Eu quero imprimir um boleto
Atendente de sempre: nossa! Quantos anos você tem?
Natália: dezessete!
Atendente de sempre: você tem dezessete anos e já ‘tá’ prestando UNESP? Quando você fez dezessete?
Natália desconfiada: em abril...
Atendente de sempre: nossa! Eu faço dezessete agora em novembro... (ele parece ter vinte e um)
Natália em casa falando com a mãe dela: Mãe, eu achava que todo mundo que tem dezessete anos nesse Brasil vivesse só pro vestibular, assim como eu!
Mãe da Natalia: Naná, você foi criada pra isso! E você está estudando em um colégio que te ensinou a pensar só em vestibular, e essa não é vida de todos os adolescentes de dezessete anos!
Natália pensando: o que eu realmente quero da minha vida? Eu não posso fazer a minha vida girar em torno do vestibular. O tiro pode sair pela culatra e de mim não vai sobrar nada do que um dia existiu...
“O que é a existência? na mocidade o é caleidoscópio das ilusões, vive-se então da seiva do futuro” (Álvares de Azevedo)
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