Páginas

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Sabe aqueles casais bonitinhos e felizes que você encontra por aí? No shopping, no metrô, dando risada de alguma bobagem que fizeram juntos, dando aqueles selinhos, um atrás do outro, um casal melosinho, daqueles bem piegas e que te deixa constrangido, vermelho de vergonha e até com um pouquinho de inveja, porque eles formam um casal lindo, apesar de grudentos. E você fica pensando que se fosse pra formar um casal bonito assim, você até que seria grudenta.
Pois é.
Você percebe que acima de tudo, eles, os componentes desse casal, são amigos. Deve ser por isso que eles combinam tanto.
Aí você se percebe dentro de uma amizade dessas em que nada fica de fora, cada detalhe é compartilhado e as pessoas que te conhecem olham pra vocês e na hora da despedida dizem: "olha o juízo, hein, vocês dois?". Triste ouvir isso.
E de repente essas pessoas passam a ter um pouquinho da razão quando rola algo entre vocês. Não dá nem pra chamar de algo, parece até mais uma entrega à tentação, qualquer coisa assim. Qualquer coisa assim e sem importância.
Mas é o tipo de coisa que você acha que vai acontecer só uma vez na vida. Ou se acontecer de novo, vai ser outro fato isolado, lembrado por uns três dias e logo depois virar uma lembrança desbotada na sua cabeça.
Só que não.
Lembra aquele casal bonitinho e feliz? De repente você tá sentada no parque com o tal motivo do "olha o juízo", formando um casalzinho feliz. Mas você não se dá conta do quão melosa você pode ser. Você se tornou o que tanto te fazia desconfortável.
Na hora de embora, pra arrumar o cabelo, todo atencioso, ele enquadra você na câmera do celular e logo depois vocês dois. E vocês formam um casal bonito. Um casal bonito que nem sequer existe.
Lembra que ele é só um amigo? Vocês não formam um casal. São apenas duas pessoas juntas sem o apelo emocional. E você não fica muito satisfeita com isso, mas o que há de se fazer? Há apenas que se esperar os acontecimentos e torcer para que não tenha consequências, sejam elas quais forem.
Se houver consequência há de se culpar meu anjinho da guarda, que eu ainda acho que anda bastante bêbado e como se isso não bastasse, me odeia. Mas é claro que ele coloca a culpa em mim e até sente pena do anjinho da guarda, mas eu volto a perguntar: o que há de se fazer?


"Eu não pensei nem respondi. Simplesmente o beijei. Foi um momento mágico. Aquelas flores amarelas caídas a nossa volta, um dia bonito de sol, o bucolismo daquele pomar, a grama, som de passarinhos e um beijo doce, muito doce. Não premeditei nada daquilo, até porque ele já tinha ultrapassado aquela linha sem volta da amizade, quando fica difícil enxergar a outra pessoa de outra forma e começar um envolvimento romântico. Mas também, não adianta fingir que não: essas atrações súbitas acabam acontecendo, sem planejamento e normalmente sem muita sensatez. Nem que nunca tenham passado pela sua cabeça (ou tenham passado escondidas).
Ao nos desvencilharmos, é claro que demos risada. Mas nem por isso afastamos nossos corpos de onde estavam.
(...) - Eu já sei o que você vai falar... - antecipei-me para protegê-lo (do que quer que fosse), para proteger-me (de ter realmente gostado daquele beijo e sentir que podia repeti-lo muitas e muitas vezes) e para proteger nossa amizade, mais importante do que toda aquela pequena embriaguez campestre."
- Trecho de Tudo o que é sólido pode derreter - Rafael Gomes 

2 comentários:

  1. Sai ano, entra ano e vc continua escrevendo lindamente ;)
    Adorei o texto
    Saudades

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E você continua uma linda que tem muita paciência pra ler esses textos!
      Também tenho saudades...

      Excluir