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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Quando a hipocrisia te engole

Um filme que marcou minha vida e que eu conheci esse ano foi o Na natureza selvagem. Como explicar o que eu senti quando o filme acabou? Eu chorei. Muito. Chorei como se não houvesse amanhã e por vários motivos:

  • porque ele não percebeu a loucura do que ele estava fazendo
  • porque ninguém percebe a loucura do que está fazendo
  • porque os pais e a irmã sofreram pra caramba
  • porque ele sofreu pra caramba
  • porque ele foi um idiota
  • porque ele foi um idiota corajoso
  • porque é uma história real
  • porque os pais e a irmã reais sofreram pra caramba
  • porque ele real sofreu pra caramba
  • porque existe um livro dessa história
  • porque eu quero ler o livro
  • porque eu vou chorar lendo o livro
  • porque eu não sei se todos esses porques tem acento.
E aí, quando passou esse meu choro histérico, eu parei pra pensar que só alguém com uma cabeça muito bem feita pra fazer o que ele fez. E ao mesmo tempo, só alguém que não consegue pensar por si mesmo pra fazer o que ele fez.
Por mais que você goste de um autor, você não vai querer viver como ele, até porquê, se você for parar pra pensar, o que o personagem fez foi ir além do que os autores disseram e seguir os passos deles, o que ele fez foi tentar se tornar seus autores favoritos.
Mas aí eu já entro num assunto bem pessoal, já que o que eu mais quero na minha vida é descobrir quem EU sou, do que EU gosto, do que EU não gosto, dos lugares que EU quero visitar, por MINHA própria conta e vontade, sem precisar da ajuda e do palpite de ninguém! Mas é pra lá de óbvio que é impossível esse isolamento. Desde que você nasce, você convive com outras pessoas, você respira o mesmo ar que outras pessoas (aliás, isso procede, produção?).
E é aí que a Hipocrisia me engole e não me deixa sair. Porque eu querer descobrir quem eu sou não veio só da minha cabeça. Claro que veio um pouco, porque todo mundo passou por aquela fase adolescente em que tudo o que você sabe é que você é confusão e os lugares e pessoas e relacionamentos também são confusão. E com 15 curtos anos eu conheci a tão aclamada Clarice Lispector com o tão aclamado Uma aprendizagem ou O Livro dos prazeres (que aliás, foi eleito meu livro favorito, não sei se você tá sabendo).
Quer autora mais atrás de quem se é do que ela? Quer livro mais introspectivo que esse?
Pois bem, não poderia rolar uma identificação mais forte do que a que eu tive com a Lóri e a vontade de tomar um banho de mar às cinco da manhã pra me colocar no lugar como ela fazia ainda é vontade forte.
Aí com 16 anos eu conheci o maravilhoso Hemingway com o Por quem os sinos dobram e já deu pra perceber que o cara era quase mais perdido que eu e já tinha a vida feita! E tinha um grupo de amigos que consistia em F. Scott Fitzgerald (que me encantou com Suave é a Noite) e Zelda Fitzgerald que também estavam tentando se encontrar, bebendo até cair em Paris, assistindo touradas em Pamplona, odiando a Itália (sério, por quê?), pesquisando e lendo em Zurique, fugindo de New York. Preciso dizer que isso me deu desespero? Eu tenho 20 anos, sou oficialmente perdida desde os 13 e aparentemente eu não vou me encontrar tão cedo, porque eu estou no Brasil, longe do centro Europeu, onde meus ídolos não conseguiam se encontrar. Se eles que foram ELES não conseguiam se encontrar lá na Europa, EU, uma garota de 20 anos que faz Letras e não sabe direito o caminho que tem que seguir vai se encontrar no Brasil?
É, a Hipocrisia convidou o amigo Preconceito pra bater um papo comigo.
Pois bem. Já deu pra perceber que eu me tornei o personagem de Na Natureza Selvagem, né? Mas não acaba por aí.
Eu estou lendo Mrs. Dalloway, um livro da Virginia Woolf (quem tem medo de Virgínia Woolf, hein? hein? Eu sei que eu tenho!).
E aí que tudo o que eu falei até agora só se tornaram mais fortes. A Clarissa fica pensando nas decisões que ela tomou e não chega nunca à conclusão se foram ou não boas decisões. O Peter fica sem saber como agir porque lembra o tempo todo que o amor que ele sente pela Clarissa o machucou de uma forma tão grande e ele não consegue se ver livre disso. O Septimus fica ouvindo tudo o que tem de errado nele e não consegue mais ver nada de bom em si mesmo (quer personagem mais eu?). A Rezia apenas vê o sofrimento do marido e não consegue mais lidar com a própria infelicidade, muito menos buscar uma felicidade concreta.
Todos eles visualizam o mundo de uma forma tão única que eu tô começando a visualizar da mesma forma. Realmente a Hipocrisia me ama. Acho até que vou mudar aqueles "bios" das redes sociais para um simples "Hipócrita". Vai ser sincero, né?



Pra quem teve preguiça de clicar nos links:
















































































PS: todas as sinopses foram tiradas do Skoob :)

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