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quinta-feira, 3 de março de 2016

Sobre pessoas más, influências e respeito

Essa semana eu percebi que voltei a julgar as pessoas como boas e más.
Mas calma. Não saio julgando as pessoas por aí. Mas eu percebo a forma como elas agem e algumas são realmente más. Não se importam com quem está do lado.
Mas vou me ater apenas ao que aconteceu hoje porque a história é longa e com sorte você vai entender o que eu quero dizer com pessoas más. Se não entender, espero que você consiga me perdoar.



Eu estava no ônibus, indo pro trabalho e no fundo estavam sentadas três mocinhas. Uma delas não parava de falar e falava alto, então achei que eu estava no direito de ouvir, já que não tinha como não prestar atenção no que ela dizia.

E ela começou a contar sobre uma garota que entrou esse ano na escola dela. A tal menina tem 16 anos e é toda tatuada porque o pai dessa menina é tatuador e quem faz as tatuagens dela é ela mesma. E ah, ela tem cabelo rosa (a tatuada). Mas veja bem, a mocinha do ônibus falou tudo isso com um desprezo na voz! Como se uma pessoa não pudesse ter tatuagens, nem ter cabelo rosa, ou entrar do nada na escola que você estuda. Só que as explicações do desprezo dela foram: 
- a menina não pode ter tatuagem porque tem 16 anos. 
- a menina não pode fazer as próprias tatuagens porque as tatuagens que ela faz são horríveis.
- a menina não pode ter cabelo rosa porque o cabelo secou inteiro e tá todo cheio de ponta dupla e parecendo palha rosa.



Agora te pergunto: quem vai viver com as tatuagens? Quem vai ter que cuidar do cabelo rosa? Quem vai ter que fazer novos amigos? Quem vai ter que melhorar na arte de tatuar?
Com certeza não é a moçinha do ônibus. Então porque ela se importa tanto? Porque não deixar a menina rosa ser quem ela quer ser e fim? O que ela tá perdendo deixando a menina rosa ser quem ela quer ser?

Mas calma, querido, tem mais.
Dia desses a mocinha do ônibus levou o carregador do celular pra usar no intervalo e aparentemente a menina rosa comentou com uma gordinha (que pra mocinha do ônibus é feia porque é gorda - mas já chego nesse ponto): mas quem traz carregador pra escola!?
E a mocinha do ônibus respondeu toda atravessada que o celular era dela e ela fazia o que bem quisesse. E ainda virou pras amigas no ônibus e disse: o que muda na vida dela se eu levo ou não o carregador do meu celular?



Mas mocinha, eu que pergunto! O que muda na sua vida ela ter cabelo rosa, ela ter tatuagens, ela fazer a própria tatuagem? Se ela foi insolente com você, porque você tem que ser insolente com ela?

Mas enfim. Essa mocinha é má, entendeu? Ela ficou falando mal da menina rosa só por falar. E da menina gordinha também. Aliás, assim que ela terminou de falar da menina gordinha, ela disse pras amigas: e vocês viram como eu tô magra? Fui comprar uma calça e o menor número ficou folgado na cintura de tão magra que eu tô! (não se enganem, ela estava feliz!).

E uma amiga até disse que elas tinham que ir num médico porque a mocinha tava emagrecendo sem parar. E a mocinha começou a falar que o que essa amiga tinha mesmo que fazer era levar ela numa agência de modelo porque ela tinha que ser modelo do jeito que tava magra. E que as pessoas elogiavam e falavam que ela parecia modelo e ela tinha que ser modelo, quero ser modelo, sou magra, sou linda, sou modelo. E amiga disse que quem tem que levar ela é o pai dela. A outra amiga comentou que pra ser modelo não tem que ser só magra. A mocinha rebateu dizendo que a amiga disse isso só porque não é magra.



O que me fez chegar em algumas conclusões:
- ela é menor de idade, porque precisa que alguém a leve pra onde ela quer.
- ela tem distúrbio alimentar, porque as amigas perceberam o quanto ela está emagrecendo e ela fugiu do assunto "ir ao médico"
- ela é influenciada pelas pessoas que dizem que ser magra é sinônimo direto de ser bonita.
- ela influencia as amigas dizendo que ela é a bonita do grupo porque é a mais magra.
- ela é uma péssima amiga e péssima pessoa no geral porque tem que rebaixar as meninas que estão ao redor dela pra mostrar o quanto ela mesma é bonita.

Algum dia, eu espero que esse dia chegue logo, as amigas vão perceber o quão babaca a mocinha é e vão parar de elogiar e parar de estar presente. O que vai ser horrível pra mocinha que vai querer mais e mais atenção, e na verdade a culpa nem é dela (mas já chego nesse ponto). Vai ser ruim pras amigas porque até lá, a auto estima delas vai estar em frangalhos porque elas nunca vão conseguir ser perfeitas como a mocinha amiga delas, os caras nunca vão gostar delas como gostam da mocinha, enquanto na verdade ninguém gosta da mocinha.


Veja bem, nada de errado em tudo isso. O problema é que as meninas são magras demais e o que passa pra nossa cabeça é que todo mundo que é bonito é daquele jeito e que se você fizer exercícios você vai ficar daquele jeito. Mas a menina magra é cercada por um super browne, depois um cookie cheio de chocolate, balas e vodca. Como a menina vai ficar magra daquele jeito se vai ficar comendo tudo isso? A "solução" pra ela são todos os distúrbios alimentares que a gente tá cansado de conhecer. 

O problema só piora com as imagens de amigas magras e loiras numa praia, depois uma moça magra e loira com um cara forte e barbudo. Essas cenas só existem ali mesmo, no estúdio fotográfico em que foram criadas. Mas na cabeça de uma adolescente aquilo é acessível se você tentar ficar como ela, bonita como ela. E na verdade aquela felicidade toda é mesmo acessível mas do jeito que ela é, com o cabelo enrolado, brasileira, magra, gorda, morena, com um braço amputado ou de cadeira de rodas. A gente escolhe ver o que é bonito. A beleza é algo criado. 

E não é só no We heart it que a gente vê esse tipo de coisa. Me conta quantas atrizes gordas e negras você conhece e que todo mundo endeusa. Me conta quantas atrizes de cadeira de rodas você conhece. Me conta quantos atores existem que não são másculos e barbudos e jorrando masculinidade.

A culpa não é da mocinha do ônibus. O jeito que ela achou de ser bonita como as pessoas que ela vê na tv, nas revistas e na internet (vai ver as youtubers de sucesso como são!) foi arranjando um jeito de ser magra e de fazer as amigas concordarem. Porque a gente tá numa época no mundo onde a gente só acredita se as pessoas esfregam na nossa cara o que acham. (e é engraçado como se a opinião não é a que a gente quer, a gente rejeita).

O nosso prazer e satisfação pessoal tem sido moldado e estruturado em cima do que uma pessoa é e o que outra pessoa pensa sobre a gente. E enquanto essa pessoa não acha a gente legal e enquanto a gente não fica parecido como a outra, a gente fica mal e faz as outras pessoas mal porque elas acabam se comparando com a gente.



Agora eu já tô cansada e vou terminar o texto, tá bom?
É óbvio que nem só coisas ruins é feita a internet. Muito menos o We heart it. Uma prova disso é a imagem aí em cima. E esse ano eu percebi que você pode muito bem filtrar o que entra em você e o que sai de você. Tudo é inspiração. Mas inspiração é diferente de influência.

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