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quarta-feira, 6 de abril de 2016

Primeiro de abril




Você não chegou e agora eu só queria encontrar alguém que pudesse me abraçar. Tô tão perto da sua casa, você podia estar por aqui e me levar pra sua cama e me cobrir até o meu ar voltar. Tá tão quente hoje e eu queria tanto conseguir respirar! Talvez se eu te visse meu coração sofreria uma taquicardia e todo esse mal estar passaria.
Sabia que quando o seu coração sai do ritmo seu corpo sente ansiedade? Isso explica muita coisa, na verdade.
Explica eu estar nesse ponto de ônibus que vai atrasar o meu dia, explica eu ter feito o caminho mais longo pra ficar sozinha bem quando eu não queria ficar sozinha.
Mas não quero estar com toda essa gente vazia de sentido, com esses rostos que não significam nada pra mim.
Eu fui subir um degrau agora e quando meu pé alcançou o chão, não havia degrau algum. E o meu dia inteiro ta assim. Você não apareceu, eu vi quem eu não queria, a aula foi horrível, eu to com fome, sede e vontade de fazer xixi. Mas o que eu to sentindo mesmo é vontade de me redimir, tirar da consciência esse peso das coisas que eu não fiz na vida.
A maior parte delas porque faltou coragem ou sobrou vergonha. Mesmo sabendo que só quem me veria fazendo essas coisas seriam essas pessoas sem rosto. Elas nunca farão sentido.
Sempre vai ser um ônibus cheio de gente desconhecida, te tocando, te empurrando, ouvindo a melhor música da vida delas e não podendo cantar, passando em frente ao melhor lugar do mundo e não podendo descer.
De novo o degrau. Mas dessa vez ele existe e é enorme, eu pulo e não consigo alcançar a borda. Eu to presa por esse muro liso e alto, por essas pessoas julgadoras que nem sabem meu nome, por essa época cheia de não me toques e por mim que não sei quem eu sou muito menos pra onde afinal eu to indo.
Só que eu não sei onde é esse lugar que eu quero chegar, nem o que vai ter lá, mas me desespero porque parece que ele não chega nunca, eu não consigo andar, tem esse muro-degrau, tem essas pessoas, tem a Marcela e a Paula e não tem ar!
Tem um coração batendo errado e uma vontade de dormir e não acordar, que se eu não resistir, vai ser o que vai acontecer, literalmente. De verdade. For real.
 Che venga la serenità. Que venha o ar e o sangue e o amor ao sol.
O amor.
Você é uma das poucas coisas que eu não fiz porque faltou coragem E sobrou vergonha. E eu nem consigo ficar brava com você e isso faz eu ficar brava comigo. Quase 22 anos e mais do que o sentimento de ter 16, de parecer ter 16, de querer ter 16, meu corpo ta voltando à condição que tinha com 16.
 Mas o amor abria a janela do ônibus pra eu respirar e dessa vez o amor não ta mais aqui e você não apareceu.
E o dia ainda não acabou pra que alguém me diga que é primeiro de abril.

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